segunda-feira, julho 10, 2006

Politica> Deputado do PT cria projeto de lei que institui a dublagem obrigatória dos filmes em língua estrangeira nos cinemas

Por Marcos Petrucelli

Uma perguntinha: vocês preferem filmes dublados ou legendados? Eu prefiro legendado, até mesmo quando se trata de animação. Mas depois eu volto nisso. O caso mesmo é o seguinte: mais uma vez a politicagem brasileira prova que é totalmente desmiolada e não tem mais o que fazer. Há um projeto de lei, já em caráter conclusivo na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, que institui a dublagem obrigatória dos filmes em língua estrangeira nos cinemas. O pai da idéia é o deputado Nilson Mourão (do PT do Acre).

Trata-se de um projeto de lei que esbarra na questão da arbitrariedade. Novamente o estado quer legislar na forma como o cidadão tem acesso à cultura e informação, quando na verdade deveríamos poder escolher. Uma escolha que a gente tem à disposição nos DVDs, por exemplo. Quem quiser, pode selecionar a opção de legendas em espanhol, chinês ou turco, dependendo do filme. Aliás, esse é um dos argumentos do projeto de lei. Mas a razão mais importante, segundo nosso nobre político, é que a medida vai beneficiar dois tipos de brasileiros: aquele que não têm familiaridade com a leitura necessária para acompanhar a velocidade das legendas, o que pode prejudicar o perfeito entendimento do filme; ou então aqueles outros milhares de analfabetos mesmo.

É nessa análise idiota e mesquinha sobre o brasileiro que o projeto de lei já nasce torto. Para aqueles que já sabem alguma coisa, é justamente lendo que se aprimora a leitura... e de quebra ainda educa os ouvidos para uma língua estrangeira. Já quem é anafabeto precisa entrar na escola. Não é um direito do cidadão e um dever do estado?

Mas o que o deputado Nilson Mourão não leva em consideração é o fato de que, tanto aqueles com pouca habilidade na leitura e principalmente os que efetivamente não sabem ler, constituem uma parcela muito menor da população brasileira. São pessoas que residem fora das grandes metrópoles, infelizmente com pouca renda, quase ou nenhum acesso à cultura e que definitivamente nem vão ao cinema.

Ou seja, a obrigação por lei das dublagens não resolve a vida desse povo.

Uma outra argumentação do projeto de lei dá conta de que a medida vai criar mais mercado de trabalho para os dubladores. Não se animem, senhores dubladores. Isso só aconteceria se houvesse mais oferta de filmes. Atualmente, quase 100% dos filmes que passam nas salas de cinema são lançados em algum momento em DVD e posteriormente exibidos nas TVs. E a dublagem é feita uma só vez. Com a lei, o dublador só trabalharia antecipadamente.

Ou seja, é uma lei estapafúrdia em todos o sentidos, que não traz benefício algum. Ao contrário, só estimula a falta de leitura e tem um caráter apenas paliativo, tentando encobrir o sol com peneira. Analfabetismo é uma deficiência que deveria ser erradicada.

Mas o pior é que a idéia do deputado Nilson Mourão não é novidade. Há várias décadas, em países como Itália e Espanha, por lei os cinemas só exibem filmes dublados. Minha avó, por exemplo, nunca soube como era a voz de Humphrey Bogart ou Ingrid Bergman. A versão brasileira dessa lei quer que as novas gerações não saibam como é a voz de Brad Pitt, Russell Crowe, Julia Roberts, Johnny Depp e outros muitos. Se o problema fosse só esse, tudo bem.

O problema mesmo é que ninguém mais poderia sentir de verdade a interpretação de um ator. Sem a voz original, perdemos as nuances, a entonação, as modulações, com todas as ênfases e pausas dos diálogos somadas ao gestual. Com todo respeito aos dubladores, não há como se aproximar da real emoção que o artista interpreta com a própria voz.

Do site: http://epipoca.uol.com.br/news_zoom.cfm?id=13341

Um comentário:

  1. O problema é que esse Deputado não consegue ler as legendas... Elas são muito rápidas!!!

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