LETÍCIA SANDER
da Folha de S.Paulo, em Brasília
A crise do mensalão tirou da disputa eleitoral de outubro quatro parlamentares que teriam o direito de tentar novo mandato. Outros três, cassados, não podem se candidatar até 2015. Mas 12 dos 19 citados em denúncias decidiram enfrentar as urnas e pediram o registro de suas candidaturas.
Os 12 mensaleiros que tentarão a reeleição negam temer o desgaste causado pela crise. Adotam o discurso de "injustiçados" e, os que podem, usam a absolvição no plenário da Câmara como tentativa de se desvencilhar do escândalo.
"Isso [a crise] já está superado. Sou deputado há 20 anos, minha base me conhece bem, sabe da seriedade com que trato as coisas e sabe que fui vítima de um processo político", disse Romeu Queiroz (PTB-MG).
O deputado José Mentor (PT-SP) também nega dificuldades pela vinculação às denúncias. "Vou apresentar aquilo que fiz ao longo do meu mandato", disse. Assim como Queiroz, Mentor foi absolvido pela Câmara. Nos bastidores, porém, a maioria dos envolvidos no escândalo reconhece que as eleições serão uma espécie de "julgamento derradeiro".
O deputado José Borba (PMDB-PR) vive a situação mais delicada. Ontem, apresentou pedido de registro de candidatura na Justiça Eleitoral do Paraná, com parecer favorável do presidente em exercício do PMDB nacional, Wilson Santiago (PB). O diretório estadual tinha fechado a lista de candidatos sem o nome de Borba. Ontem, o diretório recorreu à Justiça. Não havia decisão até o fechamento desta edição.
Acusado de receber R$ 400 mil do empresário Marcos Valério, o ex-deputado Carlos Rodrigues (sem partido-RJ) renunciou para escapar da cassação, mas está fora da disputa. Afastado da Igreja Universal do Reino de Deus, foi preso em maio, suspeito de envolvimento na máfia dos sanguessugas, que vendia ambulâncias superfaturadas a prefeituras.
Embora absolvido pelo plenário da Câmara, o deputado Wanderval Santos (PL-SP) não tentará a reeleição. Acusado de ter "terceirizado" o mandato para a Igreja Universal e de ter enviado um assessor para sacar R$ 150 mil das contas de Valério, acabou afastado da Universal, sua base política.
O pefelista Roberto Brant (MG) não tentará novo mandato porque, segundo assessores, ficou "desiludido" e ainda se sente "injustiçado". Assim como Santos, Brant foi absolvido pelo plenário da Câmara.
Único dos mensaleiros que ainda não foi julgado pela Casa, o ex-líder do PP na Câmara José Janene (PR) nega que a crise o tenha feito deixar a política. "Fiz uma opção entre a vida pública e a vida", alega, referindo-se a problemas de saúde. Janene, que sofre de uma cardiopatia grave, é acusado de ter recebido R$ 4,1 milhões de Valério.
José Dirceu (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-PE), cassados, não podem disputar a eleição.
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